a gente que vai no 5401 São Luiz-Dom Cabral das cinco em ponto da manhã é como comunidade, é um clã, uma vitória, reunião de velhos conhecidos, é cara de sono, cabelo molhado, blusa de frio, é cheiro de marmita, dos muitos humores e também de desodorante misturados com a esperança do Gonçalo, o motorista/trocador/terapeuta da Teresinha, que já perdeu toda a fé no país, menos no camarada que deve ter ali, perdido num dos bolsos, um dinheiro menor que aquela nota de vinte sacada assim, logo de cara, na abertura dessa primeira viagem, para acertar os quatro reais e cinco centavos acatados como preço da passagem.
o bom dia sai contido, outro sonoro e tem gente que nem dá. não é bonito, nem feio. um encontro meio alegre, meio triste. é uma espécie de confirmação que quase tudo deu certo, apesar do todo estar muito errado. é sinal que o Tião, a Maria, o Finzinho e a Terezinha continuam empregados, que a mocinha vai chegar a tempo, eu não perdi o horário, o ar condicionado não estragou e que a pista está desimpedida para a vida seguir nada sã mas um pouco mais salva com a gente ainda podendo escolher se vai sentar na janela pra assistir o dia rompendo lá fora ou dormir o sono divino dos pescoços tortos, que só dentro de um busão a gente consegue recuperar.